A lagarta-do-cartucho do milho é uma grande preocupação para quem planta o cereal. Esse inseto ataca as folhas e as espigas, e, se não for identificado logo, pode causar perdas de até 70% na produção. Para os agricultores, isso significa risco de prejuízos e a possibilidade de perder espaço no mercado.
A boa notícia é que uma inovação da ciência está ajudando: a inteligência artificial. Pesquisadores de uma unidade da Embrapa, em São Carlos (SP), desenvolveram um método que utiliza sensores de imagem e algoritmos, ajudando a detectar o inseto enquanto ele ainda está no campo.
Esse sistema consegue analisar imagens digitais e identificar diferentes estágios da lagarta, tanto quando é bem pequenininha quanto quando já está bem maior. Assim, os agricultores podem agir com mais rapidez e precisão, minimizando os erros que frequentemente ocorrem quando a tarefa depende apenas da observação humana.
A pesquisa usou câmeras simples, que podem ser colocadas em máquinas agrícolas ou até em drones. Isso facilita a captura de imagens enquanto o produtor cuida da lavoura. E não precisa de equipamento caro; qualquer câmera que tire boas fotos já dá conta do recado.
A ideia é que no futuro esse sistema fique integrado aos equipamentos que os agricultores usam diariamente, ajudando a reduzir custos e aumentando a eficácia no combate às pragas.
Como funciona a tecnologia com sensores de imagem
A lagarta-do-cartucho do milho precisa de um monitoramento constante, e é aí que a inteligência artificial faz a diferença. O método da Embrapa combina várias tecnologias, como processamento de imagens, visão computacional, estatísticas e aprendizado de máquina.
Na prática, isso significa que o sistema aprende a passar por milhares de imagens já registradas. A partir desse aprendizado, ele consegue reconhecer padrões de cor, textura e formato que indicam a presença do inseto.
Um dos pesquisadores, Paulo Cruvinel, explicou que essa tecnologia utiliza algoritmos que simulam o funcionamento de redes neurais, chamadas convolucionais (CNNs). Esses algoritmos permitem uma análise detalhada dos dados visuais.
Os cientistas também testaram classificadores conhecidos como máquinas de suporte de vetores (SVM), para ver qual modelo tem uma precisão melhor na classificação de cada estágio da praga.
O estudo analisou 2.280 imagens de plantas de milho, coletadas de folhas e espigas. Com isso, os algoritmos foram treinados para reconhecer cinco diferentes estágios de desenvolvimento da lagarta-do-cartucho.
O processo envolve várias etapas, como captar as imagens, retirar ruídos, isolar o inseto e descrever as características com base em informações geométricas e de textura. Isso ajuda a diminuir os erros que normalmente ocorrem na identificação.
Essas informações são cruzadas por um sistema que não apenas vai depender do olhar do técnico ou agrônomo, mas que também oferece um resultado mais confiável, baseado em dados.
Inteligência artificial e aprendizado de máquina no campo
Um dos pontos-chave desse estudo é a aplicação do aprendizado de máquina, que possibilita ao sistema evoluir a cada nova imagem analisada. Isso quer dizer que, quanto mais dados forem incluídos, mais o modelo aprende a reconhecer a lagarta-do-cartucho em diversas situações.
Além do aprendizado de máquina, o projeto também usou o aprendizado profundo, um tipo mais avançado dessa tecnologia. Ele trabalha com redes neurais de múltiplas camadas que podem classificar os padrões de forma detalhada.
É como se o sistema tivesse a capacidade de “enxergar” o inseto como uma pessoa, mas além disso, ele não cansa e não perde detalhes ao longo do tempo. O algoritmo foi desenvolvido em Python, que é uma linguagem bastante utilizada em ciência de dados e inteligência artificial, facilitando futuras adaptações.
Os testes mostraram bons resultados em termos de acurácia, tempo de processamento e desempenho do hardware que foi usado. Isso abre portas para a aplicação dessa tecnologia em equipamentos de campo, como pulverizadores inteligentes, drones e sensores que podem ser colocados em tratores.
Caminhos futuros para a agricultura digital
A integração da inteligência artificial no monitoramento da lagarta-do-cartucho ainda está em fases iniciais, mas já mostra grandes possibilidades. O sonho dos cientistas é que, em breve, esse sistema esteja disponível em tempo real, acoplado em drones ou VANTs (veículos aéreos não tripulados).
Com essa tecnologia, será possível mapear grandes áreas de cultivo sem precisar fazer inspeções manuais que tomam muito tempo. Outra ideia é usar câmeras multiespectrais, que ampliam a capacidade de identificar o inseto em diferentes condições de luz e crescimento das plantas.
Essa tecnologia pode trazer mais precisão e segurança para quem depende do milho como a principal fonte de renda. O estudo também destaca a importância de unir áreas diferentes do conhecimento, como ciência da computação, agronomia e engenharia.
Essa conexão ajuda a desenvolver soluções práticas que podem reduzir custos, aumentar a produção e garantir uma agricultura mais sustentável.
Em resumo, a lagarta-do-cartucho do milho continua sendo um desafio para os agricultores, mas as ferramentas de inteligência artificial mostram que já é possível enfrentar essa questão de maneira mais eficiente. Com essa tecnologia, o campo ganha velocidade na detecção da praga e novas estratégias para proteger cultivos essenciais, como milho, soja e algodão.
Essas inovações são um passo importante para um futuro mais produtivo e sustentável na agricultura brasileira.